terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Dízimo evangélico ou católico: qual você prefere?


Por D. Renovino Rizzardo

A notícia é do dia 13 de outubro de 2009 e não deixou de causar perplexidade: enquanto as Igrejas Evangélicas no Brasil recolhem entre seus fiéis R$ 1.032.081.300,00 por mês, a Igreja Católica, que tem um número maior de adeptos espalhados pelo país, consegue um pouco mais da metade desse montante: R$ 680.545.620,00. Os números foram divulgados pelo “Instituto Análise”, após pesquisa realizada em 70 cidades brasileiras.
As Igrejas Evangélicas que mais arrecadam são as Pentecostais. Dentre elas, se distinguem a Assembleia de Deus e a Universal do Reino de Deus, com doações mensais que chegam a R$ 600 milhões. Cada crente oferece, em média, R$ 31,48 por mês, ou seja, mais do dobro do que os católicos deixam em suas paróquias: R$ 14,01. Mas os mais generosos parecem ser os fiéis das confissões conhecidas como “históricas”: luteranos, presbiterianos, batistas, etc., cujo dízimo mensal chega a R$ 36,03 por pessoa.

A pesquisa mostrou também que o número de católicos continua diminuindo em todo o país. No censo de 2000, eles eram 73,77% da população, e os evangélicos, 15,44%. Nove anos depois, os católicos caíram para 59%, e os evangélicos subiram para 23%. Nesse ritmo, tudo leva a crer que, em vinte anos, o Brasil já não será um país de maioria católica, mas evangélica.

Evidentemente, os números dizem muito, mas não tudo. Para realizar suas obras, Deus precisa de pessoas humildes e simples que, reconhecendo os próprios limites e fraquezas, se lançam em seus braços e o deixam agir. A esse respeito, é sintomática a advertência de Deus a Gedeão, que se preparava para enfrentar os madianitas com 32.000 soldados: «Tens gente demais para vencer Madiã» (Jz 7,2). No final, Gedeão ficou com apenas 300 amigos, mas o suficiente para Deus vencer. Foi também a lição que o rei Davi aprendeu após se deixar dominar pela tentação do poder: «Depois de fazer o recenseamento da população, a consciência de Davi pesou e ele disse: cometi um grave pecado» (2Sm, 24,10).

Com isso, não estou justificando a nova realidade da Igreja Católica no Brasil, agora que parece perder a sua hegemonia de majoritária que sempre foi. Até vinte ou trinta anos atrás, a sociedade brasileira se caracterizava pela homogeneidade e pela tradição. Em certo sentido, bastava ser brasileiro para ser católico. Hoje, pelo contrário, todos se sentem no direito de fazer suas próprias escolhas, inclusive religiosas, que podem ser diferentes e opostas dentro da mesma família.

Mas, para não fugir do título que dei ao artigo, por que os católicos perdem dos evangélicos quando se trata de meter a mão na carteira? A meu ver, a resposta é muito simples: o dízimo é sempre fruto de uma conversão pessoal. Quanto maior a conversão, maior a generosidade. Se alguém tem dúvidas, confira as conversões de Mateus e de Zaqueu. O encontro com Jesus causou neles um impacto tão forte, que lhes foi natural colocar seus bens materiais a serviço dos bens espirituais. Pelo contrário, o jovem rico não acolheu o convite de Jesus para segui-lo simplesmente porque, para ele, a religião não passava de observância dos mandamentos.

Haveria ainda outros motivos que explicam essa diferença, como, por exemplo, este fato: enquanto não poucos católicos se sentem autorizados a contestar sistematicamente a sua Igreja, considerando-a rica e opressora, raros são os evangélicos que acusam seus pastores de malversação do dinheiro arrecadado. Até mesmo quando a imprensa teima em descobrir falcatruas em algumas denominações cristãs, eles preferem não julgar nem condenar. O que lhes importa é converter o Brasil para Cristo e libertar as pessoas do pecado, da doença e da pobreza. Para essa conversão geral do povo, nada impede que parte do dízimo seja direcionada até mesmo para a eleição de políticos comprometidos com a causa.

Se a Igreja Católica conseguisse proporcionar com mais vigor a seus fiéis um encontro vivo e diário com Deus-Amor, tenho por mim que acabaria sendo uma das instituições mais ricas do mundo. E eu não teria tantas preocupações por não conseguir levar adiante obras que há anos estão em compasso de espera por falta de verbas… Mas, já que perguntar não ofende, até que ponto as riquezas favorecem ou prejudicam as Igrejas e os cristãos em sua missão de fermento na sociedade? Não foi justamente essa uma das desilusões sofridas pelo próprio Jesus, ao reconhecer: «A minha casa é casa de oração, mas vós a transformastes num covil de ladrões» (Mt 21,13)?

FONTE: Diocese de Dourados/MS

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